O cantor e compositor goiano marcou posição com canções de fácil comunicação com as classes mais populares do Brasil. Era visto preconceituosamente pelas elites culturais como um dos símbolos mais fortes da cafonice musical brasileira dos anos 1970, década da hegemonia da MPB.
A dois meses de completar 76 anos, a serem festejados em 16 de agosto, Odair José – já sem precisar provar nada a ninguém – continua em atividade e tem procurado se manter em sintonia com os tempos e os temas atuais.
Em rotação desde sexta-feira, 21 de junho, com capa que expõe arte de Roger Marx, o 39º álbum do artista, Seres humanos (e a inteligência artificial), se afina com o tom do antecessor Hibernar na casa das moças ouvindo rádio (2019), lançado há cinco anos com produção musical do mesmo Junior Freitas, multi-instrumentista paulistano que toca com o cantor desde 2012 e que deu forma ao disco atual.
Lançado em 22 de março, o single DNA já tinha sinalizado essa similaridade na forma de blues-rock de versos ácidos. A diferença é que o disco Seres humanos chega ao mundo com menor dose de rock e com vozes e timbres obtidos através de recursos de inteligência artificial.
É produto de IA a voz feminina que narra as falas da sintética música-título Seres humanos na abertura do álbum. Também é artificial o canto de “Nádia” em dueto com Odair na boa canção country No ponto, composta por Odair com Bárbara Eugênia e alocada como faixa-bônus ao fim do disco porque a música foi feita fora do processo de criação do álbum.
Também vieram da IA os pianos ouvidos no country-rock Repetições e na balada Submisso, assim com o Fender Rhodes que adorna o rock O sono. Sem falar que a masterização do álbum também é creditada à inteligência artificial.
A rigor, esses recursos pouco importam no conjunto da obra porque a principal matéria-prima do álbum Seres humanos é a inteligência natural de Odair José, que discorre em A roupa sobre a noção de pecado associado ao corpo nu do ser humano.
Em Desejo, inspirada balada de alma soul, o tema é a liberdade sexual através do exercício das fantasias e de uma sugerida homossexualidade, abordada em letra escrita na primeira pessoa.