O título do show com o qual Lobão vai percorrer o Brasil ao longo de 2024, 50 anos de vida bandida, pode soar midiático por ostentar data tão redonda. Só que, no caso, a ideia corresponde ao fato. Nascido em outubro de 1957, o carioca João Luiz Woerdenbag Filho realmente entrou em cena como músico profissional há 50 anos, em 1974, quando tinha 17 anos.
Na sequência, em 1975, Lobão passou a fazer parte da banda Vímana – grupo em que teve como colegas os futuros popstars Lulu Santos e Ritchie – e, seis anos depois, em 1981, fundou com Evandro Mesquita a Blitz, banda da qual saiu intempestivamente em 1982 para iniciar carreira solo como cantor, compositor e músico de rock, hábil no toque da guitarra.
O resto é história que Lobão recordará na turnê 50 anos de vida bandida. O título alude ao nome do quarto álbum do artista, Vida bandida (1987), e sobretudo ao fato de o rock ter sido percebido no Brasil como gênero marginal ao longo dos anos 1970 – status somente alterado a partir de 1982 justamente com o estouro da Blitz e da abertura do mercado para o rock brasileiro.
“O Rock acabou se incluindo no cancioneiro popular brasileiro como um penetra. Ainda tem muito que escrever sua história, muito a contribuir para a cultura – tão raquítica e viciada em hábitos tão pouco brilhantes – do nosso Brasil”, dispara Lobão ao discorrer sobre a turnê 50 anos de vida bandida.
Em cena, Lobão (voz e guitarra) formará power trio com os músicos Armando Cardoso (bateria) e Guto Passos (baixo e vocal). O artista promete uma “grande celebração” e certamente tem munição certeira para fazer a festa com rock de peso. O real desafio de Lobão é fazer com que a música soe mais alta – dentro e fora do palco – do que as habituais declarações do artista, impedindo o rock de ser subjugado pela personalidade forte do cantor.
A boca de Lobão é metralhadora giratória que dispara pensamentos ora pertinentes, ora meramente provocativos. Só que, na real, o que Lobão falou fora de cena acabou tendo mais eco do que as músicas e os discos lançados pelo artista nos últimos anos.
Como Lobão continua com fôlego artístico, abafar a música a favor do verbo ferino está longe de ser um bom negócio neste ano de celebração de 50 anos de vida roqueira. Lobão deve deixar que o rock fale por si só, em alto e bom som.