♪ MEMÓRIA – Assim como do luar poetizado por Gilberto Gil na canção de 1981, de Clara Nunes (12 de agosto de 1942 – 2 de abril de 1983) já não há mais nada a dizer – a não ser que a gente precisa ouvir sempre essa cantora mineira morta aos 40 anos, enlutando o Brasil há exatos 40 anos.
Mas hoje, 2 de abril de 2023, talvez ainda seja preciso dizer muito sobre Clara porque, à medida que o tempo avança, a voz luminosa da artista vai ficando cada vez mais na memória como um registro de um samba que agoniza no mercado (mas não morre). E de uma música brasileira que tampouco consegue escapar dos nichos cada vez menores que ainda cultuam a MPB.
A propósito, é curioso notar que a trajetória fonográfica de Clara Nunes – pavimentada entre 1966 e 1982, mas relevante somente a partir do definidor álbum de 1971, arquitetado pelo radialista e produtor Adelson Alves – abarca o nascimento e apogeu da MPB.
Clara Nunes está imortalizada como uma voz do samba. E, de fato, esse gênero musical centenário se tornou dominante na discografia da artista a partir do já mencionado álbum Clara Nunes (1971). Contudo, basta ouvir álbuns como Brasil mestiço (1980) e Nação (1982) para perceber que, aos poucos, Clara foi extrapolando o rótulo de sambista para ser cantora de música brasileira, dando voz a um manancial de ritmos que expôs a grandeza diversa da produção musical do país.
Clara Nunes tateou por vários gêneros e movimentos na segunda metade dos anos 1960 até se encontrar no samba e na umbanda, religião de matriz afro-brasileira da qual foi importante porta-voz ao longo da década de 1970 em tempo de maior tolerância religiosa.
Esse encontrou resultou verdadeiro. É por isso que Clara resiste na memória musical do Brasil como facho de luz. Cristalizada no imaginário de quem viveu na época da artista, a figura geralmente sorridente da cantora ainda emana luminosidade.
Essa luz está refletida na discografia de Clara. Álbuns do quilate de Alvorecer (1974), Claridade (1975), Canto das três raças (1976), As forças da natureza (1977), Guerreira (1978) e Esperança (1979) permanecem com o mesmo viço da época do lançamento. Todos estão disponíveis em edições digitais nos aplicativos de música, à espera de novos ouvintes, potenciais futuros admiradores do canto eternamente cintilante de Clara Nunes.