♪ MEMÓRIA – Ninguém poderia supor que o LP chegaria aos 70 anos com tanto vigor após ter sido dado como morto em meados da década de 1990. Sim, faz 70 anos em 2021 que o primeiro LP foi lançado no Brasil.
Foi precisamente em janeiro de 1951 que a gravadora Sinter prensou e comercializou no país um LP de dez polegadas editado com o selo da Capitol Records. Compilação de gravações direcionadas para a folia daquele ano de 1951, esse LP histórico citava o novo formato do mercado fonográfico no título Carnaval em “long playing”.
Embora inédito no Brasil, o formato já era a rigor conhecido pelo mundo há três anos. Foi em junho de 1948 que a Columbia Records apresentou ao universo pop o LP – abreviação para long playing. Trata-se de disco de 10 polegadas capaz de armazenar 23 minutos de áudio, girando na velocidade de 33 rotações por minuto. O que totalizava uma média de oito faixas por disco.
O LP de 12 polegadas chegou na sequência, aportando no Brasil em 1956, com capacidade para armazenar 44 minutos de música, tempo geralmente dividido em 12 faixas. Foi o formato que prevaleceu desde então no mercado fonográfico brasileiro.
A chegada do LP aposentou os rudimentares discos de 78 rotações por minuto e propiciou a criação de álbuns. Fortalecido nos anos 1960, década fundamental para a criação de uma cultura pop no universo musical, o álbum deixou de ser mera reunião de fonogramas (inéditos ou já pré-existentes) e gerou discos com conceitos e com faixas encadeadas com princípio, meio e fim.
Até os anos 1980, o LP sempre conviveu no Brasil com os singles – compactos simples (com duas músicas) ou compactos duplos (com quatro músicas) no jargão fonográfico brasileiro – e reinou soberano até o fim desses mesmos anos 1980.
Com o advento do CD, criado na década de 1980 e popularizado no Brasil na primeira metade da década de 1990, o LP parecia coisa do passado. Uma peça do museu do disco.
Só que, como a vida, a indústria da música dá voltas. A partir do século XXI, a comercialização de fonogramas em formato digital – de início de forma ilegal com o compartilhamento pirata de arquivos em MP3 e, aos poucos, de maneira legalizada através dos aplicativos de música – decretou a morte do CD, bolachinhas prateadas que tinham desbancando o LP pela capacidade de oferecer mais música (quase o dobro do vinil) e pelo som mais límpido, gravado sem processo mecânico.
O futuro parecia digital. Mas eis que o LP ressurge aos poucos como objeto de culto para colecionadores de discos. O apelo visual das capas e encartes reativou o atualmente setentão long playing no mercado de discos. São inumeráveis os artistas que fazem questão de lançar álbuns em LP. Fábricas de vinil foram reativadas sem conseguir suprir a demanda.
O que se vê hoje é uma corrida para produzir LPs com vinis de cores variadas – atrativo adicional para os adeptos do som do vinil. E, como a lei da oferta e da procura rege o mundo capitalista da indústria da música, o preço do LP foi para a estratosfera. Não raro, paga-se mais de R$ 200 pela edição em LP de álbuns novos ou antigos.
É a regra de um jogo movido pela paixão dos colecionadores de discos. Resta saber se o CD, hoje tão negligenciado no mercado fonográfico do Brasil, mudará esse jogo no futuro, passando por processo de revalorização como o LP.