Resenha de show a partir da transmissão online da apresentação de 6 de novembro de 2021
Título: Imaculada
Artista: Alice Caymmi
Local: Sesc Belenzinho (São Paulo, SP)
Data da temporada: 5, 6 e 7 de novembro de 2021
Cotação: * * 1/2
♪ É compreensível que Alice Caymmi tenha ignorado o denso repertório do álbum Electra (2019) no roteiro de Imaculada, show que a artista carioca apresenta neste fim de semana no teatro do Sesc Belenzinho, na cidade de São Paulo (SP), em temporada iniciada na sexta-feira, 5 de novembro, e concluída neste domingo, 7.
Na atmosfera pop roqueira deste inédito show baseado no recém-lançado quinto álbum de estúdio da cantora, Imaculada (2021), disponível desde 15 de outubro, cabem mais a graciosidade do axé Tudo que for leve (Alice Caymmi, 2012) – composição autoral do primeiro álbum da artista – e os recados diretos mandados por Alice para os machos opressores e egocêntricos na pressão do refrão da música Todas as noites (Alice Caymmi e Vivian Kuczynski, 2021).
Como o disco homônimo, Imaculada é show exteriorizado, pautado pela estética pop contemporânea dos arranjos executados com pegada roqueira pelo trio formado pelos músicos Ian Cardoso (guitarra), Lucas Gonçalves (baixo) e Thiaguinho Silva (bateria).
Aliada à imobilidade da artista no palco, a uniformidade dessa estética gerou linearidade observada na apresentação de sábado, 6 de novembro, transmitida ao vivo pelo canal do Sesc no YouTube.
Tal linearidade gerou certa frieza na exposição de roteiro que contabilizou 16 músicas, já incluído na lista o funk melody Me leva (Latino, 1994), cantado no bis com menor rigor estilístico no confronto com as interpretações da artista em shows mais teatrais como Rainha dos raios (2014) e Electra (2019).
Ecos dessa teatralidade reverberaram no gestual da intérprete em Iansã (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1972), música que inspirou o título do álbum Rainha dos raios (2014), mas, no todo, Alice Caymmi é cantora que pode alcançar mais requinte vocal do que o exibido no palco do teatro do Sesc Belenzinho em show pontuado por algumas interpretações displicentes.
Título de maior impacto na discografia de Alice, o álbum Rainha dos raios também foi representado no roteiro do show Imaculada por outro funk melody, Princesa (MC Marcinho, 1997), e pela balada Meu recado (Michael Sullivan e Alice Caymmi, 2014).
Aberto com Louca (Loca) (Thalía, Estéfano e José Luís Pagan, 1995, em versão em português da banda Kitara, 2010), o show Imaculada naturalmente priorizou as músicas do álbum que lhe serve de base.
Pelo tom incisivo da letra, o bote de Serpente (Alice Caymmi e Vivian Kuczynski, 2021) – dado pela cantora com agudos que remetem às vozes operísticas – sobressaiu em repertório cuja irregularidade ecoou no palco pelo canto de músicas como Dentro da minha cabeça (Alice Caymmi, 2021), a balada Recíproco (Alice Caymmi, Junior Fernandes e Zebu, 2021) e Sentimentos (Alice Caymmi e Mulú, 2021), tema apresentado no show com levada evocativa do suingue do norte do Brasil.
Lembranças do álbum Alice (2018), as canções A estação (Carlinhos Rufino, 2018) e Sozinha (Pablo Bispo, Rodrigo Gorky e Arthur Marques, 2018) se conectaram com o tom confessional de repertório em que a artista se expõe corajosamente.
Movida por essa coragem, Alice Caymmi irmanou músicas de tempos e estilos distintos sob o manto pop roqueiro do show Imaculada.
♪ Eis o roteiro seguido por Alice Caymmi em 6 de outubro de 2021 na segunda das três apresentações do show Imaculada no teatro do Sesc Belenzinho, na cidade de São Paulo (SP):
1. Louca (Loca) (Thalía, Estéfano e José Luís Pagan, 1995, em versão em português da banda Kitara, 2010)
2. Sozinha (Pablo Bispo, Rodrigo Gorky e Arthur Marques, 2018)
3. Serpente (Alice Caymmi e Vivian Kuczynski, 2021)
4. Iansã (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1972)
5. Princesa (MC Marcinho, 1997)
6. Meu recado (Michael Sullivan e Alice Caymmi, 2014)
7. A estação (Carlinhos Rufino, 2018)
8. Recíproco (Alice Caymmi, Junior Fernandes e Zebu, 2021)
9. Imaculada (Alice Caymmi, 2021)
10. Ninfomaníaca (Alice Caymmi, Number Teddie e Urias, 2021)
11. Todas as noites (Alice Caymmi e Vivian Kuczynski, 2021)
12. Dentro da minha cabeça (Alice Caymmi, 2021)
13. Tudo que for leve (Alice Caymmi, 2012)
14. Sentimentos (Alice Caymmi e Mulú, 2021)
15. A lenda da luz da lua (Moonlight densetsu) (Tetsuya Komoro e Kanako Oda, 1999, em versão em português da banda Gaijin Sentai)
Bis:
16. Me leva (Latino, 1994)