♪ Música menos imponente na safra autoral do álbum Portas, mas nem por isso menos interessante, Vento sardo espalha as boas vibrações recorrentes no cancioneiro de Marisa Monte em single que aportou avulso – três meses e meio após a edição do disco lançado em 1º de julho – na noite de quinta-feira, 14 de outubro, com capa que expõe arte de Marcela Cantuária.
Primeira parceria da artista carioca com o uruguaio Jorge Drexler, Vento sardo é música composta em 2016 em travessia de barco à vela na Sardenha.
Canção bilíngue escrita com versos em português e em espanhol, cantados em uníssono por Marisa e Drexler, Vento sardo se desloca com leveza ao longo dos quatro minutos e 15 segundos da gravação produzida pela própria Marisa Monte com a colaboração de Drexler e de Carles Campón.
A letra discorre sobre a natureza do vento. “Hay tiempos de andar contra el viento / Cuando el contratiempo comienza a soplar / Então o vento que é de aragem / Bate no varal pra me dar coragem”, rimam os autores, trançando vozes no fonograma produzido à distância entre Brasil e Madrid, capital da Espanha, país onde reside Drexler.
Embasada com leveza pela percussão de Carlinhos Brown (tamborito, cajonga, tamborim, zabumba, thunder e quadrângulo), em evocação sutil da quentura da música flamenca, Vento sardo é single de clima e ares brandos.
Afinada com a atmosfera do álbum Portas, a temperatura amena da gravação é reiterada pelas cordas orquestradas por Marcelo Camelo e pelo violão tocado pelo próprio Jorge Drexler.
Contudo, o mais interessante da música é que Vento sardo parece ser de fato um amálgama dos estilos de composição de Marisa e Drexler e, nesse sentido, a canção até soa diferenciada na safra autoral de Portas. Até porque, no repertório deste álbum, soou nítido o D.N.A musical da artista, em que pese a variedade de parceiros arregimentados por Marisa para o disco, previsto para ser lançado em LP duplo no Brasil em 2022 (a edição em CD chega em novembro, mas somente em Portugal, Espanha, Itália, Argentina e Japão).
Canção também formatada com o piano Fender Rhodes de Claudio Andrade e o toque do baixo de Martin Leiton, Vento sardo se conecta com a ambiência arejada do disco Portas e, em certo sentido, soa menos déjà vu do que as outras músicas do ótimo álbum.