Título: Os quatro Paralamas
Direção: Roberto Berliner e Paschoal Samora
Elenco: Bi Ribeiro, João Barone, José Fortes e Herbert Vianna
Produção: TV Zero
Cotação: * * 1/2
♪ Estreia programada para 19 de abril no canal de TV Curta! com o filme disponível no clube Curta!On a partir deste mês de março de 2021
♪ Falta foco ao documentário Os quatro Paralamas. Previamente exibido em festivais em 2020, o filme de Roberto Berliner e Paschoal Samora está longe de ser o consistente documentário biográfico a que a banda carioca faz jus pelas quatro décadas de existência que começou a ganhar forma em fins de 1981.
Ao mesmo tempo, o roteiro jamais aprofunda a história de amizade e lealdade do empresário José Fortes – o quarto Paralama aludido no título do filme, profissional de atuação decisiva nos bastidores do grupo – com Bi Ribeiro (baixo), Herbert Vianna (voz e guitarra) e João Barone (bateria).
À medida que avança a hora e meia do filme, vai ficando claro que o roteiro patina na superfície e que nada mais vai ser acrescentado de relevante ao que já foi dito. Quase ao fim, os olhos marejados de Zé Fortes ao comentar a sólida relação pessoal e profissional entre os quatro – “Nunca pensei em ver a banda acabar. Nem no acidente do Herbert. (...) Os nossos maiores amigos entre nós quatro somos nós quatro. Isso é raro. Nós vivemos juntos mais do que uma família” – indicam profundidade de sentimentos que poderia ter sido mais esmiuçada pelos roteiristas.
Equipe do documentário 'Os quatro Paralamas' — Foto: Divulgação
Contudo, o foco do filme acaba residindo mais no jogo de espelho entre passado e presente da banda, confronto pacífico, introduzido no início do roteiro pelo encadeamento de dois registros da música Selvagem (Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, 1986) em momentos bem distintos.
O presente é simbolizado pelo encontro dos quatro na sala da casa de Bi Ribeiro para conversa de tons amenos. O passado ressurge na tela através do vasto material de arquivo filmado por Roberto Berliner.
Desde apresentação da então iniciante banda no Circo Voador (RJ) em 1983, o diretor vem captando a história dos Paralamas do Sucesso com as câmeras – o que possibilitou a fartura e a variedade ao material de arquivo. Mesmo que a qualidade técnica de parte das imagens tenha se deteriorado pelos efeitos do tempo, é sempre interessante ver e ouvir os Paralamas no auge, com mais cabelos, mas com a mesma gana e o mesmo espírito de união.
Ao se inserir na narrativa, no off ouvido na abertura do filme, Berliner se posiciona como amigo do grupo. Essa relação de amizade tem a vantagem da intimidade com os quatro profissionais enquadrados nas lentes de Berliner ao mesmo tempo em que, por conta dessa mesma intimidade, o filme esbarra em limites e acaba ficando como registro oficial.
Faltou mais agilidade ao roteiro – encadeado sem a pegada da banda – e faltou sobretudo um olhar mais distanciado da relação entre os quatro para contar melhor essa história de amizade rara no universo pop, até pela longevidade da relação pessoal e profissional dos músicos com o empresário de assumida inaptidão para tocar um instrumento, mas um notório virtuose dos bastidores do mercado da música.