Nos últimos vinte anos, Dave Grohl se especializou em dar entrevistas dizendo que o rock não morreu e em fazer shows com tom apoteótico em turnês de discos cada vez mais pretensiosos.
Mas ele descomplica tudo em "Medicine at midnight", 10º disco dos Foo Fighters. A virada para o rock mais festivo não é radical, mas está no coro de "na na na" de "Making a fire", no riff de garagem de "Poison down" e no cowbell de "Cloudspotter".
O álbum lançado nesta sexta-feira (5) tem pouca enrolação no arranjo das músicas e no tempo mesmo: são nove faixas em trinta e seis minutos, sem pontos baixos. Eles nunca foram tão concisos.
Quando os Foo Fighters apareceram em 1995, eram isso: um filhote divertido e esperto do grunge e do hardcore, com um surpreendente senso pop.
"Medicine at midnight" até faz lembrar aqueles tempos. Claro que hoje Dave Grohl é profissional. O que lá parecia intuição e talento ("Big me") aqui é técnica e fórmula ("Waiting on a war").
Foo Fighters durante encerramento do palco Mundo no segundo dia de Rock in Rio 2019 — Foto: Marcelo Brandt/G1
Mas funciona, com ajuda do produtor Greg Kurstin, que já fez bons trabalhos sem invencionices em discos anteriores que transitaram entre o pop (Adele, Sia) e o rock (Beck, Liam Gallagher).
É tudo polido, certinho, mas sem perder a alma. Até a balada "Chasing birds" consegue fugir do óbvio - é mais George Harrison que Paul McCartney.
Rock de quarto
Dave Grohl saiu da banda que fazia shows desastrosos em estádios e virou perito na tarefa que Kurt Cobain odiava: domar a multidão em megafestivais. O Foo Fighters virou isso aí.
Eles não abandonaram o rock de arena. O disco abre com o tal coro de "na na na". Mas eles aceleram e puxam para o power pop. Desse jeito, dá para animar tanto um festival quanto uma festinha caseira.
Era improvável, mas, no meio da pandemia que impede Dave Grohl de exercer seu papel principal de animador de estádio, ele mirou um alvo menor e fez seu disco mais divertido dos últimos vinte anos.